sexta-feira, 15 de julho de 2011




ESPELHADOR

Já os olhos me escondem o que realmente vêem
E, sem desesperar, inspiro as cores da calma que o ar transporta.
No espaço côncavo das palpitações de Inverno
Resta apenas o calor dos momentos frágeis e efémeros.
Já os olhos me escondem o que realmente vêem
E a alma teima em fazê-lo brilhar.
Teremos já macias cãs e relevos sulcados nas frenéticas mãos,
Quando o quadro pintado se revela aos olhares incrédulos dos espectadores,
E dele surgirá a angustiante mensagem que, fechada e bem guardada,
Resistiu, trôpega e calada às tentações de tantos momentos
Em que a voz calou o que a alma sentiu.
Teremos então os desenhos bem delineados de tudo aquilo que perdemos,
Faltar-nos-á o tempo para agarrar e modelar de novo a vida que só surge uma vez.
As lágrimas implorarão sentido, serão insípidas,
Restará apenas o murmúrio escorregadio do seu deslizar.
Olho o seu balançar dorido e revejo-me no reflexo cristalino de cada gota salgada.
A imagem que observo é a de alguém que, nostalgicamente, se aproxima do reflexo de si!

F.SCHUBERT SCHUBERT