quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


"O sol ergueu-se mais. Ondas azuis, ondas verdes, abrem um rápido leque sobre a praia, rodeando as pontas dos cardos marinhos e deixando aqui e ali finas poças de luz. Atrás de si, as ondas largam uma pálida orla negra. As rochas, ainda há pouco enevoadas e macias, endureceram e mostram as suas fendas vermelhas.
Agudas sombras jazem sobre a relva; o orvalho, dançando na ponta das folhas e das flores, transforma o jardim num mosaico de cintilações dispersas, que não chegam a fundir-se numa só mancha luminosa. Os pássaros, com o peito salpicado de amarelo e rosa, cantavam juntos uma ou duas melodias, desenfreados como um par de patinadores enlaçados. Depois, subitamente, ficavam em silêncio e partiam.
Sobre a casa, o sol lançava agora raios mais largos. A luz aflorava qualquer coisa verde no canto da janela, qualquer coisa que se transformava numa esmeralda, numa gruta de puro verde, um fruto sem sementes. Depois, tornava mais agudos os contornos das cadeiras e das mesas e iluminava a renda branca das toalhas entretecidas de fios doirados. À medida que a luz aumentava, abria-se aqui e ali um botão, soltando flores cheias de pequenas veias verdes ainda palpitantes, como se o esforço do desabrochar as tivesse transtornado. Ao baterem nas paredes brancas as suas frágeis corolas faziam um vago carrilhão. Tudo se fundia e perdia docemente a sua forma. Dir-se-ia que o prato de porcelana se diluía e a faca de aço se tornava líquida. E durante todo esse tempo, as ondas desfaziam-se nos rochedos, numa vibração surda, como troncos de árvores tombando na areia."
Virginia Woolf, As Ondas

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