quinta-feira, 3 de novembro de 2011





Knulp acrescentou ainda:

- Cada pessoa tem a sua alma, que não pode ser confundida com nenhuma outra. Duas pessoas podem encontrar-se, podem conversar e ser bastante próximas, mas as suas almas são como flores, cada uma com raízes em lugares diferentes, e nenhuma delas pode ir ao encontro da outra, caso contrário teria de abandonar as suas raízes e isso é algo que não conseguem fazer. As flores emitem e trocam o seu aroma e as suas sementes, pois gostariam de ir ao encontro uma da outra, mas para que uma semente chegue ao lugar que lhe é destinado nada a flor pode fazer; responsável por isso é o vento, e esse chega e parte, vai e vem como e para onde ele quiser.

Dali a alguns momentos retomou:

- O sonho de que te falei deve ter o mesmo significado.
Não foi com consciência que fiz fosse que mal fosse à Henriette ou sequer à Lisabeth, mas pelo simples facto de ter em tempos gostado de uma e de outra e de elas espiritualmente me terem apoderado, tornaram-se para mim uma espécie de figura de sonho, parecida com ambas mas igual a nenhuma delas. Essa figura pertence-me apenas a mim e já nem sequer é algo vivo. Do mesmo modo pensei eu frequentemente acerca dos meus pais. Estes acham que, sendo eu seu filho, sou igual a eles. Porém, por muito amor que lhes tenha, não deixo de ser para eles um estranho, alguém que não conseguem compreender. Aquilo que em mim e para mim é mais importante, e que talvez defina o que é a minha alma, é algo que eles consideram secundário e justificam-no com a minha juventude ou como sendo uma mera questão de temperamento. No entanto gostam de mim e de bom grado fariam por mim tudo o que fosse preciso. Um pai pode legar ao seu filho o nariz e os olhos, até mesmo a inteligência, mas jamais a alma. Essa é sempre nova em cada indivíduo.

in Knulp, Hermann Hesse

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